Tenho observado uma tendência preocupante em meu consultório: o aumento alarmante dos casos de infarto, especialmente entre pessoas mais jovens.
É uma pergunta que escuto diariamente dos meus pacientes e familiares: “Doutor, por que os casos de infarto estão aumentando tanto?”
O cenário atual dos infartos no Brasil
Os números são realmente alarmantes. Segundo dados recentes do Ministério da Saúde, de 2022 a 2024, foram registrados mais de 234 mil atendimentos relacionados ao infarto em pessoas com menos de 40 anos. Em minha prática clínica, posso confirmar que essa realidade chegou aos nossos consultórios.
Nos últimos três anos, os infartos causaram mais de 7.800 mortes de pessoas com menos de 40 anos no país. Como médico, cada número desses representa uma vida perdida precocemente, muitas vezes por causas que poderiam ter sido prevenidas.
E por que os infartos estão aumentando?
1. Mudança radical no estilo de vida
Em meus anos de prática, tenho testemunhado uma transformação drástica no estilo de vida da população brasileira. O sedentarismo se tornou epidêmico, a alimentação ultraprocessada virou regra, e o estresse crônico se normalizou em nossa sociedade.
2. O impacto devastador da pandemia
A pandemia de COVID-19 acelerou drasticamente esses problemas. Em meu consultório, vejo pacientes que ganharam peso, pararam de se exercitar e desenvolveram quadros de ansiedade e depressão. Durante o isolamento social:
- O tempo médio sentado aumentou em duas horas por dia
- A prática de atividade física despencou
- Houve piora significativa na qualidade da alimentação
- Os níveis de estresse e problemas de sono se intensificaram
3. Novos fatores de risco emergentes
Como cardiologista moderno, preciso estar atento a novos fatores de risco que não víamos com tanta frequência anos atrás:
Uso de anabolizantes: Tenho recebido pacientes jovens, aparentemente saudáveis, que sofreram infarto após uso de esteroides anabolizantes. O risco pode ser até três vezes maior.
Cigarros eletrônicos (vapes): Contrariando a crença popular, os vapes também têm efeito negativo sobre o sistema cardiovascular, especialmente entre os jovens.
Drogas ilícitas: O uso de substâncias como cocaína tem se tornado mais comum e representa um fator de risco significativo para infarto em jovens.
Os principais fatores de risco que vejo em meu consultório
Em minha experiência clínica, os fatores de risco mais comuns que identifico são:
- Tabagismo (incluindo cigarros eletrônicos)
- Colesterol alto
- Hipertensão arterial
- Obesidade e sobrepeso
- Diabetes tipo 2
- Sedentarismo
- Estresse crônico
- Uso de anabolizantes
- Histórico familiar de doença coronariana
COVID-19 e o coração
Estudos internacionais têm demonstrado que o próprio coronavírus pode ter efeitos diretos no sistema cardiovascular. Em meu acompanhamento de pacientes pós-COVID, observo:
- Maior incidência de arritmias
- Processos inflamatórios nos vasos sanguíneos
- Maior tendência à formação de coágulos
- Piora de fatores de risco pré-existentes
Como identificar os sinais de alerta
Sintomas clássicos:
- Dor no peito que pode irradiar para braço, pescoço ou mandíbula
- Falta de ar
- Sudorese fria
- Náuseas e vômitos
- Tontura ou desmaio
Atenção especial: Em jovens e mulheres, os sintomas podem ser atípicos, como dor nas costas, fadiga extrema ou desconforto abdominal.
Minha estratégia de prevenção
Em minha prática clínica, foco na prevenção através de:
1. Avaliação de risco personalizada
Cada paciente recebe uma avaliação individual dos fatores de risco, considerando histórico familiar, estilo de vida e exames específicos.
2. Mudanças no estilo de vida
- Implementação gradual de exercícios físicos
- Orientação nutricional personalizada
- Técnicas de manejo do estresse
- Cessação do tabagismo
3. Monitoramento regular
- Controle rigoroso da pressão arterial
- Acompanhamento dos níveis de colesterol
- Monitoramento glicêmico
- Avaliação periódica da função cardíaca
A prevenção começa com pequenas mudanças no dia a dia: uma caminhada regular, uma alimentação mais saudável, o abandono do cigarro, o controle do estresse. Como sempre digo aos meus pacientes: “É muito mais fácil e barato prevenir um infarto do que tratá-lo”.
Se você tem fatores de risco ou histórico familiar de doença cardíaca, não espere. Procure um cardiologista para uma avaliação completa. Seu coração agradecerá.
Dr. Marcelo Puzzi – CRM 24522 | RQE 19.351| RQE 19563
Médico Cardiologista Intervencionista
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